sábado, 27 de março de 2010

IDENTIDADE Stuart Hall menciona o pertencimento como um dos fatores primordiais na construção da identidade (de forma performática). De fato, hoje se define um indivíduo quase exclusivamente pelos seus grupos: nacionalidade, profissão, tribos, etc. Dizemos, por exemplo, que um aluno é nerd, ou que um outro é punk. Certas características comportamentais (timidez, esforço nos estudos, anti-sociabilidade; agressividade, inconformismo) ou físicas (uso de óculos; roupas rasgadas) nos permitem enquadrar cada um dos indivíduos num grupo de semelhantes. Esse enquadramento, ou classificação nos ajuda a formar uma imagem mais definida de cada pessoa. O Homem tem necessidade de classificar tudo o que conhece, para poder comparar e compreender o mundo. Por que seria diferente com outros homens? A atribuição de rótulos é, portanto, inevitável, por mais fictícios ou superficiais que eles sejam. Isso não quer dizer que uma pessoa fará sempre parte dos mesmos grupos, ou “terá sempre a mesma identidade”. Por exemplo, se o aluno considerado nerd crescer e se tornar popular, haverá comentários de que ele “não é mais a mesma pessoa”, ou mudou de identidade. Vendo por esse aspecto, a identidade não é mais do que a imagem de uma pessoa aos olhos dos outros. A personalidade e as características mais íntimas ainda constituem sua identidade, mas a imagem se sobrepõe a elas. E, se a imagem ganhou o papel principal na sociedade pós-moderna, é natural que se tenham criado formas de moldá-la. Escolha a sua imagem e ela lhe dirá quem você é. Por outro lado, há ainda características ou rótulos que não são escolhidos ou moldáveis. Por exemplo, a nacionalidade. O local de nascimento curiosamente influencia a todos nós, não apenas nos nossos valores e costumes, mas também na nossa imagem como um grupo. Nós, brasileiros, enquanto grupo, somos vistos como amantes do samba e do futebol, e detestamos os argentinos (por mais que, no âmbito pessoal, possamos ter um amigo argentino). Australianos rivalizam com os neozelandeses, e assim por diante. É uma interessante alucinação de massa. Sabemos, por exemplo, que há milhões de brasileiros diferentes, mas nada mudará o senso comum de que “os americanos são todos iguais”. Até as mentes mais esclarecidas cultivam preconceitos de grupo. Há ainda um fator mais forte que a nacionalidade, que é a língua. Falantes da mesma língua não apenas se compreendem com mais perfeição, mas compartilham de uma mesma visão de mundo, pois delimitam o mesmo campo simbólico através das palavras. Assim, a identificação nacional ganha uma força que pode se sobrepor a qualquer outra, e fica evidente quando em antigonia com outra nação, de língua diferente. Um dos fenômenos mais curiosos, porém, acontece aqui mesmo, no Brasil. Pois um brasileiro que se preze deve ter um time do coração! Somos todos, voluntariamente e hipnoticamente, são-paulinos, corintianos ou palmeirenses. Flamenguistas ou vascaínos, gremistas ou colorados. Não há amigo, por aqui, que não lhe perguntará, ao menos uma vez, “para que time você torce”, pois esse é um dado de vital importância na construção da sua imagem na cabeça desse amigo. O comportamento, a nacionalidade e o time de preferência são apenas alguns dos infindáveis itens que constroem uma identidade, no mundo pós-moderno. Vale lembrar que uma pessoa jamais pertencerá a um único grupo, ou a uma única categoria, podendo inclusive misturar características aparentemente contrastantes. Se a nacionalidade influencia a perspectiva cultural do indivíduo, o Estado ou a Cidade determinam seus valores. Espera-se que quem mora ou é nascido em São Paulo tenha grande afeição pelo trabalho, e que os cariocas apreciem uma certa liberdade. Porém, um homem paulistano não é igual à mulher paulistana. Pressupõe-se uma certa semelhança, mas os dois itens (localidade e sexo) se entrelaçam para formar uma terceira imagem. O mesmo acontece com praticamente todos os “fragmentos de identidade”, que se cruzam e se chocam incessantemente, em cada ocasião, formando não uma, mas várias imagens de um indivíduo distorcido. Em nenhum momento tem-se a visão completa da identidade, mas cria-se uma idéia unificada e abstrata da pessoa.