quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O CARA É BARRAQUEIRO!

Num destes dias quentes de verão, quando entrou no templo um cara muito esquisito, transpirando pelo sol de meio dia, foi em direção a livraria evangélica chutando, quebrando os vidros, derrubando os livros nas pratileiras, depois foi para o outro lado onde esta a lanchonete derrubou as mesas com as cadeiras, depois começou a gritar O QUE ESTÃO FAZENDO COM A IGREJA?  Chamaram a polícia e levaram ele para uma delegacia... Ufa... Ainda bem que ninguém se machucou.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A HISTORICIDADE DO PENTECOSTALISMO BRASILEIRO

Historicidade do pentecostalismo Brasileiro


Realmente, o movimento pentecostal marcou o século 20. No Brasil, a Assembléia de Deus chegou a somar quase a metade de todos os protestantes. A capilaridade do movimento é fenomenal. Eu já preguei em catedrais e em garagens transformadas em templo. Entre 1976 e 1982, como evangelista associado de uma missão, visitei todo tipo de congregações pelo Brasil. Espantei-me com a autonomia dos pentecostais, que nunca esperavam por determinações dos líderes para se expandir.

De onde vem essa enormidade numérica? As respostas variam. Os próprios pentecostais são categóricos: o Espírito Santo age em suas igrejas. Outros atrelam o avanço do movimento ao êxodo do campo. O teólogo Harvey Cox percorreu o mundo em busca de respostas. Concluiu que o sucesso do pentecostalismo se deve à sua capacidade de preencher o vazio de uma geração e alcançar “além dos limites do credo e da cerimônia para chegar ao âmago da religiosidade humana”.¹

Acredito que o fenômeno das línguas estranhas explique alguma coisa. A princípio criticado por tirar as pessoas do pleno controle de suas faculdades, o falar em línguas estranhas (glossolalia) serviu para atrair milhões. A experiência de falar em uma língua desconhecida vem de John Wesley, que ensinou que a santificação dos crentes acontece em uma segunda experiência. Assim, quando os cultos da rua Azuza, em Los Angeles, se tornaram notórios, essa segunda experiência não se restringiu à santificação; o êxtase veio acompanhado de línguas para capacitar na tarefa de evangelizar o mundo. Os crentes poderiam evangelizar as nações, sem precisar aprender idiomas; Deus habilitaria o missionário para pregar e ser compreendido. Os dois capítulos iniciais de Atos foram invocados como base. Assim, os pentecostais, desavergonhados, assumiram o falar palavras ininteligíveis como marca distintiva do movimento.

O pentecostalismo nasceu, portanto, da euforia missionária do início do século 20, que esperava o arrebatamento da igreja. Era necessário “apressar” a volta de Cristo evangelizando os confins da terra. Assim, enquanto as escolas tradicionais gastavam anos no preparo de evangelistas, o forno aquecido da reunião de oração pentecostal despachava milhares de pregadores leigos. Voluntários certos da capacitação extraordinária que receberam estavam dispostos a se embrenharem nos lugares esquecidos do planeta.

Enquanto fundamentalistas ressaltavam a necessidade de conhecer os idiomas originais da Bíblia para uma interpretação acurada, homens e mulheres semi-analfabetos afirmavam ter adquirido capacitação espiritual de não apenas entender as Escrituras, como também de proclamá-la além-mar.

Depois, os próprios pentecostais perceberam que a glossolalia não ajudava na comunicação do evangelho. Porém, para não abandonar a ideia de que o falar em línguas era um dom de poder, passaram a ensinar que o dom sinalizava o poder que reveste os crentes para serem mais eficazes em suas ações. Mais tarde, com o movimento de renovação entre protestantes tradicionais e católicos, línguas estranhas ganharam outro significado: comunicação íntima com Deus para a edificação do crente.

À medida que a doutrina se sofisticou, passou-se a considerar dois tipos de língua estranha: como sinal inicial do batismo no Espírito Santo e como variedade de línguas, para enriquecer a vida devocional.

Fui batizado no Espírito Santo em uma reunião de oração na Assembleia de Deus de Fortaleza, em 1974. Falei em línguas em um êxtase que jamais esqueci. Dali, senti-me impulsionado a pregar. Como os primeiros negros americanos, parti para fazer missões, certo que Deus me revestira de seu poder.

Infelizmente, observo que o dom de línguas perdeu valor e sentido entre os pentecostais.

Vale a crítica de que no pentecostalismo alguns se consideram privilegiados e menosprezam os que não falam em línguas, considerando-os menos especiais. Também, o movimento exagerou na individualidade do dom de línguas, que já não mobiliza para missões como em tempos passados. Evangelistas gostam de entrecortar suas pregações com glossolalia para se exibirem como ungidos. Atualmente, neopentecostais dão curso para ensinar línguas estranhas, com técnica e tudo mais.

O pentecostalismo clássico no Brasil (Assembléia de Deus, Congregação Cristã, O Brasil para Cristo e Igreja do Evangelho Quadrangular) perdeu embalo. Engessado pelo legalismo e desarticulado por politicagem interna, cedeu espaço a igrejas neo pentecostais midiáticas que usam a teologia da prosperidade como carro-chefe.

Lamentável. No século 20, nenhuma expressão do cristianismo foi mais competente que o pentecostalismo em resgatar a doutrina da Imago Dei entre os pobres. E não há perspectiva de nada novo em médio prazo

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

MANUAL DO DISCÍPULO

A Igreja local tem por ministério receber todo tipo de pessoas, sejam elas doentes fisicamentes ou emocionalmente, mas devevão serem curadas e tratadas, transformando-as em “Oliveiras” frondosas e frutíferas. Quem vai fazer este trabalho será?

voce

A Igreja é o Corpo de Cristo, e não uma comunidade social para “carregar” os problemáticos, ou satisfazer as necessidades pessoais de interesseiros.



A maior parte das pessoas que estão vindos aos cultos, vem por uma necessidade, são vidas destruidas por abandono, abusos na infância, regeição paterna e materna, buscam desesperadamente serem reconhecidas na sociedade como indivíduos representaticos.

Pensando nisto foi que Jesus nos ordenou que fosse-mos aos perdidos e pecadores, não cobrá-los mais ajudá-los a receber e frutificar no reino.

Durante anos a igreja foi apenas uma porta de entrada pequena com uma porteira aberta nos fundos, não existia consolidação nem tão pouco comunhão era cada um por si e salve-se quem puder. Mas Deus pelo seu infinito amor levantou e está lavantando homens e munheres como voce compromissados com seu reino etravés da igreja para fechar a porteira e arrebanhar as ovelhas perdidas para o grande pastor Jesus.



FUNDAMENTOS BÍBLICOS



DEVERES E QUALIDADES DOS LÍDERES



TITO1: 5-Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi:

6-alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados.

7-Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus, não arrogante, não irascível, não dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe ganância;

8-antes, hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio de si,

9-apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem.





O LÍDER TAMBÉM É OVELHA



HEBREUS13



17Obedecei aos vossos pastores e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A MORTE DO PECADO

Aquele que não teve pecado, Deus o fez pecado por nós...
Comparável a essa frase em seu conteúdo esmagador somente uma outra:
Ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar...
Ambas referem-se ao Cordeiro de Deus, a Jesus, o Senhor.
O que me choca é que está tudo feito e acabado, menos para quem diz “crer”. Os que “crêem” não sabem que ainda não crêem, ou não sabem no que crêem. Pois se o soubessem, saberiam que a Lei morreu em Cristo; que a força do pecado é a Lei, mas que com sua morte, ela, a Lei, já não tem poder sobre nós. Ora, essa morte da Lei matou a força do pecado, pois onde não há Lei, também não há transgressão. Assim, o que Jesus Pagou por nós, está Pago para sempre. Mas quem crê?
Então você pergunta: Se é assim, como então nós ainda pecamos?
Ora, o pecado que eu peco é fruto de minha queda, mas já não carrega em si mesmo o poder de me matar, tanto quanto já não carrega mais o poder de me fazer “compulsivo”, pelo simples fato de que em minha consciência ele já não se faz acompanhar da condenação da morte.
É o medo da morte e a certeza da condenação o poder que gera toda compulsão!
O pecado faz mal ao meu ser, mas já não tem o poder de daná-lo, se se está confiante no poder e na consumação do que Jesus já fez por nós. Afinal, o pecado só existe em mim, mas já não existe como algo que pende como espada da morte sobre minha cabeça. Eu estou em Cristo!
Já não há mais nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus!
Agora eu ouço:
Filhinhos meus, não pequeis; se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai; Jesus Cristo, o Justo; Ele é a propiciação pelos nossos pecados; e não somente pelos nossos próprios, mas inda pelos do mundo inteiro!
O Deus que se fez carne também se fez pecado por nós!
E certamente Ele não fez isto para que continuasse tudo igual. Tem que haver um fato-fator-real que decorra dessa ação. O fato real é um só: o pecado existe na vida de cada um de nós, mas já não existe como condenação. O fato do pecado em mim é inegável. Todavia, é também inegável que ele já não tem poder sobre mim.
Como? Não tem poder? Como?
Ele existe como produção de minha carne (corpo-totalidade-do-ser), pois faz parte de minha constituição caída. Hoje ele pertence à dimensão de minha animalidade não elevada em consciência, pois ainda está presa à minha condição de “egoísta-essencial”. No entanto, o pecado virou gripe: amolece, mas já não me mata.
Então, eu constato o pecado em mim. Grito: “Desventurado sou!”. Mas meu grito já não ecoa para a eternidade, não ecoa nem mesmo no tempo, exceto em mim, que me entristeço comigo mesmo. Entretanto, ele já não passa daí. Pois a Lei do Espírito e da Vida em Cristo, me libertou da Lei do pecado e da morte!
Agora, se creio no que “está feito”, vivo pelo que Ele fez por mim, não em razão do que eu, mesmo crendo, ainda faço contra mim.
Aquele que não teve pecado Deus o fez pecado por nós, para que nós que pecamos já não sejamos pecado, mas sem pecado Nele, que nunca tendo pecado, foi feito pecado em meu lugar.
A lógica é uma só: quem nunca foi...foi feito...para que quem é...possa já não ser, mesmo que ainda seja...pois mesmo sendo, só o é para si mesmo...mas não mais para Aquele que por nós se fez aquilo que Ele mesmo não era...para que nós que somos...já não o sejamos como quem em sendo morre do é.
Quem eu sou já não me mata!
Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo!
Com efeito Deus condenou na carne o pecado!
Com efeito a condenação do pecado aconteceu na Cruz!
Com efeito, quem crê já está liberto; ainda que pratique a sua própria liberdade tomando consciência de que quem ele é, o é em Cristo; não em si-mesmo.
Com o pecado morto, e com a Lei sepultada, o que sai da morte e da sepultura não é mais o que me mata, mas o que me salva.
Cristo morreu pelas nossas transgressões e ressuscitou para a nossa justificação!
Eu sei, no entanto, que é muito difícil crer na pregação. Isaías ainda pergunta: Quem creu na pregação?
Ora, pouca gente crê!
Quem dera essas multidões que confessam a Jesus como Senhor soubessem e cressem também; e quem dera que sobretudo cressem no que “os penosos trabalhos de sua alma” realizaram por todos nós!
A promessa divina era que o Salvador veria os resultados dos “penosos trabalhos de sua alma e ficaria satisfeito; pois que como o Seu ‘conhecimento’ Ele justificaria a muitos”.
Há um conhecimento a ser apreendido!
Somos salvos pela fé. Mas há um “saber em fé” que é o “conhecimento” da justificação já realizada.
É esse “conhecimento em fé” é aquilo que nos mergulha no descanso que declara: “o castigo que nos trás a paz estava sobre Ele, e pelas suas pisaduras nós fomos sarados”.
Para mim já está pago!
Não aceito nem mesmo os débitos que minha carne me apresenta para que eu os pague. Olho, constato, e declaro: “Todo escrito de dívidas foi encravado na Cruz”.
Eu não creio em mim, mas Deus sabe que eu creio na pregação!
Nele, que Resolveu para sempre

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A luta de Jesus pela independência: a sua Por Paulo Brabo

Com lamentável freqüência as palavras de Jesus são usadas pelos cristãos não como meios para a obtenção dessa vontade livre e independente, mas como regulamentos de autoridade inquestionável porque procedem da boca de Jesus. Essa aplicação das suas palavras, no entanto, representa uma efetiva insubordinação a elas.
Não podemos deixar de lado o fato de que Jesus esforçou-se para conduzir os que uniram-se a ele a uma postura que ia além desse tipo de obediência indolente. Compreender corretamente esse aspecto da sua obra é ver a consciência moral do ser humano encontrando nEle sua consumação final; e, se formos incapazes de enxergar isso, não poderemos experimentar a Pessoa de Jesus ou, em qualquer sentido real, o poder da redenção.
É adquirir independência no homem interior – ou seja, verdadeira vida.
Só conseguiremos apreender essa realidade quando as palavras de Jesus nos revelarem o espírito que nos capacita a adquirir independência no homem interior – ou seja, verdadeira vida. A não ser que encontremos em Jesus este caminho para a disciplina e a liberdade interiores, permanecerá para nós impossível experimentar sua Pessoa na qualidade de caminho que conduz ao Pai. Sem completa reverência é impossível que haja completa confiança; porém o acesso a Deus que é nosso através de Jesus consiste numa absoluta confiança na pessoa dele, confiança que representa a libertação dos horrores do isolamento espiritual. A não ser que tenhamos experimentado isso podemos, na verdade, prosseguir falando sobre o drama da redenção como algo realizado eras atrás, mas não teremos qualquer direito de dizer que ele é o Redentor cujo poder experimentamos agora.
Wilhelm Herrmann

em seu prefácio a Ensaios sobre o Evangelho Social, 1907

terça-feira, 1 de junho de 2010

UNITOLEDO

PALESTRANTE:
MELQUISEDEQUE CHAGAS TEMA: GESTÃO DE COMPETÊNCIA

segunda-feira, 31 de maio de 2010

A revolução da igreja

A fim de resgatar a Igreja como polis (cidade) será necessário resgatar a Igreja como comunidade disciplinada. Este porém tem sido o aspecto da Igreja mais atacado pelo neoliberalismo, pois a igreja local tem se integrado por completo ao mercado de consumo; ao invés de frequentar uma igreja que disciplina nosso desejo e imaginação, é mais provável que frequentemos uma igreja que dá livres rédeas ao desejo que já possuímos. Isso quer dizer que será necessário aprender a nos relacionarmos com a Igreja como comunidade que nos provê das disciplinas de que carecemos a fim de viver o cristianismo. Como afirma Hauerwas: “Não quero ser ‘aceito’ ou ‘compreendido’. Quero fazer parte de uma comunidade com os hábitos e práticas que me levem a fazer aquilo que de outra forma eu não faria, para aprender a gostar de fazer aquilo que fui forçado a fazer”. Em particular, a igreja deve praticar disciplinas que se contraponham às disciplinas impostas pelo neoliberalismo, a fim de liberar o corpo da repressão imposta pela alma. Isso implica em incitar uma revolução – que nos arrenque da alma para o espírito.

sábado, 29 de maio de 2010

terça-feira, 25 de maio de 2010

Pela alma do povo: omissões coletivas e bravuras individuais Por Paulo Brabo

Estocado em História, Livros, Manuscritos Nós e o cristianismo só temos uma coisa em comum: exigimos a pessoa toda! O juiz nazista Roland Freisler a Helmut Moltke, durante o julgamento de Moltke pelo seu envolvimento no atentado de 20 de julho Eu estava a meio caminho da interminável biografia de Dietrich Bonhoeffer (que ainda não terminei) quando comecei a ler For the soul of the people: Protestant protest against Hitler [Pela alma do povo: Protesto protestante contra Hitler], da historiadora Victoria Barnett. Pus de lado esta semana a última página do livro, e posso dizer que encontrei o que não procurava – talvez justamente porque (e eis a necessária reviravolta) não encontrei o que procurava. O título do livro é ao mesmo tempo enganador e significativo porque, como a autora vai deixando agonizantemente claro, não houve protesto protestante contra Hitler. Não na Alemanha nazista. Não quando era necessário. Não quando um protesto poderia fazer diferença. Não com qualquer ênfase ou visibilidade, não por parte de um grupo significativo e certamente não por parte da instituição como um todo. O que houve, e disso a história fornece redentora e incômoda evidência, foi protesto individual de protestantes contra Hitler. A instituição essencialmente nada fez, mas naquele mais vigiado, preconceituoso, intolerante e opressor dos regimes levantaram-se uns poucos heróis solitários que, precisamente como Bonhoeffer, colocaram-se publicamente em pé diante da máquina simplesmente porque não concordavam com a direção em que ela estava indo, e por causa de quem estava sendo esmagado no caminho. A maioria desses, precisamente como Bonhoeffer, não escapou com vida para testemunhar a primavera de 1945, quando o planeta despedaçado acordou perplexo para o fim da inocência mundial. É uma narrativa que confirma da forma mais excruciante o que venho intuindo há muito tempo (“repita comigo: as instituições não existem, só existem pessoas“) sobre a insuficiência das instituições e a facilidade com que podem tornar-se carimbos coletivos que o sistema usa para endossar a injustiça. Na história como apresentada por Barnett é terrível constatar o tempo que perde, esperando alguma reação ou posicionamento da igreja formal, o punhado de pessoas realmente disposta a se levantar contra o regime – ou, talvez ainda mais importante, disposta a ajudar quem está sendo prejudicada por ele. Mesmo os militantes mais radicais da resistência protestante na Alemanha nazista demoraram anos até passarem a questionar a omissão do sistema eclesiástico em público e em privado; todos, mesmo os terrivelmente lúcidos como Bonhoeffer, simplesmente queriam que a instituição funcionasse. Muitos deles ficaram querendo até o último momento. A verdade que esta parábola deixa evidente é que a instituição não existe para defender uma causa ou sua coerência ideológica interna, mas para garantir sua própria perpetuação – pelo que seu modo de operação mais fundamental é a cautela. Quando o governo nazista decretou que os judeus estavam a partir de determinado momento desclassificados para determinadas posições públicas e privadas, não ocorreu à igreja questionar esse julgamento, mesmo quando os que queriam comprovar a sua ascendência ariana recorreram em massa aos arquivos eclesiásticos, que detinham os registros de nascimento – e cujos responsáveis tiveram de trabalhar em dobro (e em alguns casos contratar assistentes e secretários) a fim de suprir a nova demanda de verificação racial gerada pelo estado. Quando os judeus convertidos ao cristianismo se tornaram um embaraço inequívoco também dentro das igrejas, muitos sugeriram singelamente que uma solução amorosa seria que esses cristãos de origem “não-ariana” abrissem uma igreja só para eles, onde não representariam ameaça para outros além de si mesmos. Isso enquanto toda uma ala da igreja evangélica alemã, a dos chamados “Cristãos Germânicos”, propunha a sumária eliminação do Antigo Testamento de todas as Bíblias, de modo a sinalizar sem margem de dúvida o rompimento do cristianismo com a herança judaica. Diante do ensurdecedor silêncio da igreja perante esses procedimentos, uma facção dela decidiu que era necessário postar-se publicamente contra a onda de insanidade. Esses, mais ou menos liderados por Bonhoeffer, deram a si mesmos o nome de Igreja Confessante, porque criam que confessar o nome/pessoa de Jesus implicava em manifestar-se publicamente contra toda forma de injustiça, mesmo diante de riscos institucionais e pessoais. O livro de Barnett explica como essas três facções da igreja alemã (a minoria dos Cristãos Germânicos, a maioria conservadora/cautelosa e a minoria confessante) combateram umas com as outras durante o regime nazista de modo a, no fim das contas, se sujeitarem mutuamente ao mais completo silêncio diante das injustiças de Hitler. Parte essencial da história, na verdade, está em que logo ficou claro que havia diferenças irreconciliáveis de convicção e de estratégia entre moderados e radicais mesmo dentro da Igreja Confessante. Essa polarização apenas se acentuou com o cerrar do cerco nazista, até que aqueles dispostos ao martírio entenderam que mesmo o movimento confessante era insuficiente para se proferir no meio do caos a Palavra, e partiram para a carreira solo no acolhimento de perseguidos ou no terrorismo secular. Entenderam que se haveria uma igreja contra a qual as portas do inferno não resistiriam, essa se manifestaria através de indivíduos e não da instituição. Porém essa sua distração com a fé no sistema custou muito para eles mesmos e para outros: quando esses poucos caras – a dissidência da dissidência – sacaram que não podiam e não deviam contar com as soluções institucionais, era essencialmente tarde demais. O cerne do problema parece ter residido no fato de que, numa tradição que se estendia praticamente até Lutero, igreja e líderes eclesiásticos alemães haviam durante séculos sido incentivados a declarar mútua lealdade para com “o trono e o altar”. Nessa visão de mundo governo e igreja eram considerados sistemas independentes, mas unia-os um acordo tácito pelo qual um se comprometia a não interferir nos negócios do outro, e pelo qual ambos se comprometiam a fornecer ao outro legitimidade. Em outras palavras, a igreja não se sentia particularmente devedora a qualquer manifestação do Estado, mas sentia-se menos ainda inclinada a a interferir em negócios que diziam respeito a “outro domínio” que não o espiritual. Seu papel cristão era, muito declaradamente, pregar o evangelho e distribuir os sacramentos. Insurreição, resistência, desobediência civil – numa palavra, protesto – não desempenhavam qualquer papel no vocabulário prático da tradição protestante. Essa sacrílega cumplicidade entre igreja e estado tem, evidentemente, raízes ainda mais antigas do que a Reforma, que apenas inseriu na equação o fator competição [à Igreja Católica]. Em sua manifestação original o movimento cristão era apolítico, anti-imperialista e subversivo ao ponto da anarquia funcional, mas o sucesso espetacular da sistematização do cristianismo terminou por apagar por completo os efeitos dessa herança subversiva – até que, em Constantino, igreja e império se transformaram numa única e abominável coisa. Para o historiador cristão Eusébio, escrevendo no ano 336, o imperador Constantino (o primeiro a conceder favor estatal à fé cristã) representava o modelo do governante espiritual, um “amigo de Deus” que “arranja seu governo terreno de acordo com o padrão do original divino”. Para Eusébio, Constantino deveria ser visto pelos crentes como “nosso imperador divinamente favorecido”, que havia recebido “como que uma transcrição da soberania divina” a fim de conduzir “em imitação do próprio Deus a administração dos negócios do mundo”1 – nada muito diferente do que cristãos alemães opinariam séculos mais tarde a respeito de Hitler. Nessa única transação com o Poder o movimento cristão passava de frágil a influente, de subversivo a inofensivo, de marginal a detentor do status quo, de incendiário a bombeiro, de incômoda ameaça aos poderes e potestades deste mundo a seu mais valioso selo de confirmação. As tremendas desventuras, grandes vergonhas e pequenas ousadias encenadas pela igreja evangélica alemã durante o regime nazista apenas demonstram o quanto há de contemporâneo e de diabólico nessa aliança, mesmo em regimes que professam oficialmente divisão entre igreja e estado. É uma história que demonstra muito claramente que o problema não reside na separação entre igreja e estado, porque enquanto permanece como instituição a igreja é obviamente inseparável dos governos deste mundo. Uma instituição é basicamente uma entidade coletiva que tem algo a perder (mesmo que seja apenas sua própria autoridade), e o movimento cristão é por definição bíblica o movimento dos desbravadores do reino – isto é, o domínio em permanente insurreição dos que confessam não ter nada a perder, e sustentam ao mesmo tempo que o único modo de confessar isso é demonstrá-lo. É algo ao mesmo tempo belo e terrível que a história do protesto protestante contra Hitler só tenha para contar omissões coletivas e bravuras individuais. A segunda metade do século XX e sua extensão no terceiro milênio são resultado sem escalas da experiência coletiva da Segunda Guerra, e sobreviver a ela ensinou-nos não só a questionar incessantemente qualquer ideologia (porque tememos outro Hitler), mas a duvidar da eficácia e da legitimidade de soluções intermediadas/institucionais. Essa, no entanto, é uma lição de humildade que o terreno beligerante da tradição cristã irá até o último momento recusar-se a absorver. Prova disso é o que aconteceu logo depois – porque Barnett, para minha surpresa, não termina sua história com o final da guerra. E se o drama da igreja alemã sob Hitler havia confirmado minhas piores suspeitas, nenhuma expectativa me havia preparado para o que veio em seguida.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

ARIOVALDO RAMOS FALA SOBRE A CIDADE E SUA ORIGEM

Melhor é o longânimo do que o herói da guerra, e o que domina o seu espírito, do que o que toma uma cidade. Pv 16.32 Contra o que lutamos? Contra nós mesmos. Daí, melhor a paciência para com o outro: É treinamento para autodomínio. O que precisamos conquistar? A nós mesmos. Daí, melhor dominar o próprio espírito! Quando a gente muda, uma parte do mundo muda com a gente. Há os sinalizadores e os voluntariosos: Os sinalizadores esperam e apontam caminhos. Eles se conquistaram porque sabem do jeito de viver. Deus existe: há um jeito certo de viver. Os voluntariosos só têm tempo para si, para a sua vontade. Até podem vencer guerras, mas não a principal: consigo mesmo. Há dois Enoques na Bíblia: Um herdou uma cidade que lhe era homônima. A gente não sabe quanto ele viveu. Sua família, para não mais voltar, saiu da presença de Deus, Sua família quase levou o mundo a destruição. O outro era da família que invocava a Deus… Sabemos quanto tempo e como viveu. Ele e toda a sua família: É que só é contado o dia vivido diante de Deus! Ele andava com Deus… E tanto! Que Deus o tomou para si! O primeiro dominava uma cidade, o segundo se dominava. Nome: todos tem um. Alguns pensam que o nome o fará, e mudam de nome para mudar. Nome é a gente que faz, com a vida que vive. Um dia, porém, Deus mudará o nome de todos os que foram tornados seus: Para o nome que conosco construiu. Nome: cada um terá o seu!

domingo, 23 de maio de 2010

sábado, 22 de maio de 2010

segunda-feira, 17 de maio de 2010

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Calvino como Pastor, Evangelista e Missionário

Harry L. Reeder
Muitos conhecem a acusação de que os calvinistas se preocupam somente com doutrina e são indiferentes à evangelização e missões. Além disso, o calvinismo é acusado de ser contraproducente em relação ao empreendimento de evangelização e missões. Isso é errado não somente no que diz respeito à história, conforme revela um exame da lista de grandes pastores-evangelistas e missionários que eram declaradamente calvinistas (ou seja, George Whitefield, Charles H. Spurgeon, William Carey, David Brainerd, Jonathan Edwards, etc.), mas também no que diz respeito ao próprio Calvino.
A paixão de Calvino como pastor-evangelista se revelou de várias maneiras. Calvino evangelizava persistentemente as crianças de Genebra, por meio de aulas de catecismo e da Academia de Genebra. Além disso, ele treinava pregadores a rogarem aos homens e mulheres que seguissem a Cristo. A visitação na enfermidade prescrevia uma conversa evangelística. Até uma análise superficial dos sermões de Calvino mostra de imediato um zelo permanente para que homens e mulheres fossem convertidos a Cristo.
E o que podemos dizer sobre missões? O Registro da Venerável Companhia de Pastores relata que 88 missionários foram enviados de Genebra. De fato, houve mais do que cem, e muitos deles foram treinados diretamente por Calvino.
Contudo, missões foram realizadas em um nível mais informal. Genebra se tornou o imã de crentes perseguidos, e muitos desses imigrantes foram discipulados e retornaram ao seu país como missionários e evangelistas eficazes.
Quando se acalmaram os tempos turbulentos no ministério pastoral de Calvino, surgiu a oportunidade para expansão missionária intencional e implantação de igrejas. A bênção de Deus sobre os esforços missionários de Calvino e das igrejas de Genebra, de 1555 a 1562, foi extraordinária — mais de 200 igrejas secretas foram implantadas na França por volta de 1560. Até 1562, o número crescera para 2.150, produzindo mais de 3.000.000 de membros. Algumas dessas igrejas tinham congregações que totalizavam milhares de membros. O pastor de Montpelier informou a Calvino, numa carta, que “nossa igreja, graças a Deus, tem crescido, e continua a crescer tanto a cada dia, que pregamos três sermões aos domingos para mais de cinco ou seis mil pessoas”.
Outra carta, do pastor de Toulouse, declarava: “Nossa igreja continua crescendo até ao admirável número de oito ou nove mil almas”. A amada França de João Calvino, por meio de seu ministério, foi invadida por mais de 1.300 missionários treinados em Genebra. Esse esforço, conjugado com o apoio de Calvino aos valdenses, produziu a Igreja Huguenote Francesa que quase triunfou sobre a Contra-Reforma católica na França.
Calvino não evangelizou e implantou igrejas somente na França.
Os missionários treinados por ele estabeleceram igrejas na Itália, Holanda, Hungria, Polônia, Alemanha, Inglaterra, Escócia e nos estados independentes da Renânia. Ainda mais admirável foi uma iniciativa que enviou missionários ao Brasil.
O compromisso de Calvino com a evangelização e missões não era teórico, mas, como em todas as outras áreas de sua vida e ministério, era uma questão de atividade zelosa e compromisso fervoroso.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

terça-feira, 11 de maio de 2010

segunda-feira, 10 de maio de 2010

sexta-feira, 7 de maio de 2010

sexta-feira, 30 de abril de 2010

quarta-feira, 28 de abril de 2010

segunda-feira, 26 de abril de 2010

sábado, 24 de abril de 2010

quinta-feira, 22 de abril de 2010

sábado, 17 de abril de 2010

O TEMPO

CULTO AO VIVO PELA INTERNET

Através do Streaming de Vídeo, você pode colocar qualquer vídeo na internet, ou ate, transmitir um evento ao vivo, de sua Igreja, ou de algum evento ao vivo. O streaming da Seulugar.net oferece o que ha de melhor em qualidade de WEB TV Online, através do windows media service ou o Windows media Encoder. Com o streaming de vídeo, você poderá criar sua TV Online, Culto ao vivo, Palestras, Vídeos de Demos trações, aulas interativas, aulas demonstrativas, Vídeos aulas musicais, Pregações religiosas, tutoriais online, Vídeo Demo de softwares, Filmes Onlines, Curas metragens e Longas metragens, alem de poder capturar a tela do seu PC e enviar para qualquer pessoa, em qualquer lugar do Mundo, sim, isso mesmo, recursos como esse, não podem faltar em seu site! Streaming Media é uma tecnologia de compressão de dados que permite ao usuário assistir a um vídeo ou ouvir um áudio sem precisar baixar o arquivo em seu computador. A transmissão é feita através de fluxos contínuos de dados, permitindo que usuários com conexões normais tenham acesso a conteúdos de áudio e vídeo que normalmente seriam muito demorados para serem carregados no computador para posterior execução. Por causa disso as transmissões em Streaming Media vem se popularizando em todo o mundo, com aplicações diversas como explicamos anteriormente , sendo utilizadas nos mais variados segmentos da economia, a www.seulugar.net esta preparada pra lhe fornecer o melhor em custo x benefício, entre em contato com nossos operadores e veja como é fácil negociar conosco e fazer seu sonho de ter uma TV se realizar!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A IGREJA COMUNITÁRIA

ADMINISTRAÇÃO ECLESIÁSTICA

EXTRAÍDO DO BLOG SANTÍCIMA TRINDADE - IGREJA ANGLICANAA Administração Eclesiástica surge no nosso meio como um grande desafio, não apenas para quem administra, mas também e principalmente para a comunidade como um todo. Antes de qualquer coisa, é preciso entender o conceito de “Organização Eclesiástica”. Baseado na 1ª carta de Paulo aos Coríntios, (Cap.12:12-31), o professor Antônio Vieira de Carvalho, em seu livro; Planejando e Administrando as Atividades da Igreja, caracteriza a organização eclesiástica como sendo “um conjunto de relações na comunidade, baseadas primeiramente no vínculo de ordem espiritual, moral e ético”. Esta caracterização apresenta-nos a igreja como uma instituição divino/humana. Organização divina porque foi instituída por Deus (descrita no livro dos Atos), e organização humana porque é composta por pessoas. Amitai Etzioni, professor da Universidade de Colúmbia, EUA e autor do livro Organizações Complexas, afirma: “nascemos em organizações, somos educados por organizações e quase todos nós passamos a vida trabalhando para organizações, e, ao morrermos, são organizações que se incumbem do nosso enterro”. Ou seja, durante toda nossa vida, de uma forma ou de outra,participamos de alguma organização, e estas, por sua vez, tiveram cada uma delas suas administrações, independentemente do nosso conhecimento, vontade ou atuação! A verdade é que, tendo conhecimento ou não, querendo ou não, todos nós participamos diretamente das organizações, e desta forma interferimos direta ou indiretamente nas suas administrações. Afinal, é para atender as nossas necessidades que as organizações são criadas. E para que estas organizações sobrevivam, necessitamos de Administração. Por definição, Administrar é planejar, organizar, dirigir e controlar. Este é o chamado “processo administrativo”, que denota seqüência e continuidade. Portanto, não podemos conceber uma “administração” sem planejamento, organização, direção e controle. Por outro lado, a observação da seqüência dessas quatro funções é imprescindível, pois, como poderemos organizar algo que não foi antes planejado? Ou como poderemos controlar algo que não foi antes organizado?

terça-feira, 13 de abril de 2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

quinta-feira, 1 de abril de 2010

terça-feira, 30 de março de 2010

domingo, 28 de março de 2010

A IGREJA

O LIVRO...

Imbecil Coletivo I - Atualidades Inculturais Brasileiras - Col. Olavo de Carvalho Autor: Carvalho, Olavo de Editora: E Realizacoes Ltda Categoria: Ciências Humanas e Sociais / Sociologia "O Imbecil Coletivo" encerra a trilogia iniciada com "A Nova Era e a Revolução Cultural" e prosseguida com "O Jardim das Aflições". Este volume descreve a extensão e a gravidade de um estado de coisas - atual e brasileiro - do qual a nova era dera o alarme e cuja precisa localização no conjunto da evolução das idéias no mundo fora diagnosticada em "O Jardim das Aflições".

sábado, 27 de março de 2010

IDENTIDADE Stuart Hall menciona o pertencimento como um dos fatores primordiais na construção da identidade (de forma performática). De fato, hoje se define um indivíduo quase exclusivamente pelos seus grupos: nacionalidade, profissão, tribos, etc. Dizemos, por exemplo, que um aluno é nerd, ou que um outro é punk. Certas características comportamentais (timidez, esforço nos estudos, anti-sociabilidade; agressividade, inconformismo) ou físicas (uso de óculos; roupas rasgadas) nos permitem enquadrar cada um dos indivíduos num grupo de semelhantes. Esse enquadramento, ou classificação nos ajuda a formar uma imagem mais definida de cada pessoa. O Homem tem necessidade de classificar tudo o que conhece, para poder comparar e compreender o mundo. Por que seria diferente com outros homens? A atribuição de rótulos é, portanto, inevitável, por mais fictícios ou superficiais que eles sejam. Isso não quer dizer que uma pessoa fará sempre parte dos mesmos grupos, ou “terá sempre a mesma identidade”. Por exemplo, se o aluno considerado nerd crescer e se tornar popular, haverá comentários de que ele “não é mais a mesma pessoa”, ou mudou de identidade. Vendo por esse aspecto, a identidade não é mais do que a imagem de uma pessoa aos olhos dos outros. A personalidade e as características mais íntimas ainda constituem sua identidade, mas a imagem se sobrepõe a elas. E, se a imagem ganhou o papel principal na sociedade pós-moderna, é natural que se tenham criado formas de moldá-la. Escolha a sua imagem e ela lhe dirá quem você é. Por outro lado, há ainda características ou rótulos que não são escolhidos ou moldáveis. Por exemplo, a nacionalidade. O local de nascimento curiosamente influencia a todos nós, não apenas nos nossos valores e costumes, mas também na nossa imagem como um grupo. Nós, brasileiros, enquanto grupo, somos vistos como amantes do samba e do futebol, e detestamos os argentinos (por mais que, no âmbito pessoal, possamos ter um amigo argentino). Australianos rivalizam com os neozelandeses, e assim por diante. É uma interessante alucinação de massa. Sabemos, por exemplo, que há milhões de brasileiros diferentes, mas nada mudará o senso comum de que “os americanos são todos iguais”. Até as mentes mais esclarecidas cultivam preconceitos de grupo. Há ainda um fator mais forte que a nacionalidade, que é a língua. Falantes da mesma língua não apenas se compreendem com mais perfeição, mas compartilham de uma mesma visão de mundo, pois delimitam o mesmo campo simbólico através das palavras. Assim, a identificação nacional ganha uma força que pode se sobrepor a qualquer outra, e fica evidente quando em antigonia com outra nação, de língua diferente. Um dos fenômenos mais curiosos, porém, acontece aqui mesmo, no Brasil. Pois um brasileiro que se preze deve ter um time do coração! Somos todos, voluntariamente e hipnoticamente, são-paulinos, corintianos ou palmeirenses. Flamenguistas ou vascaínos, gremistas ou colorados. Não há amigo, por aqui, que não lhe perguntará, ao menos uma vez, “para que time você torce”, pois esse é um dado de vital importância na construção da sua imagem na cabeça desse amigo. O comportamento, a nacionalidade e o time de preferência são apenas alguns dos infindáveis itens que constroem uma identidade, no mundo pós-moderno. Vale lembrar que uma pessoa jamais pertencerá a um único grupo, ou a uma única categoria, podendo inclusive misturar características aparentemente contrastantes. Se a nacionalidade influencia a perspectiva cultural do indivíduo, o Estado ou a Cidade determinam seus valores. Espera-se que quem mora ou é nascido em São Paulo tenha grande afeição pelo trabalho, e que os cariocas apreciem uma certa liberdade. Porém, um homem paulistano não é igual à mulher paulistana. Pressupõe-se uma certa semelhança, mas os dois itens (localidade e sexo) se entrelaçam para formar uma terceira imagem. O mesmo acontece com praticamente todos os “fragmentos de identidade”, que se cruzam e se chocam incessantemente, em cada ocasião, formando não uma, mas várias imagens de um indivíduo distorcido. Em nenhum momento tem-se a visão completa da identidade, mas cria-se uma idéia unificada e abstrata da pessoa.